FILME "DESATINO" - 2008




Dimas Oliveira lança filme sobre crime que abalou São Paulo

Curta-metragem "Desatino" retrata a trágica história de amor do advogado e escritor Moacyr Piza e da cortesã de luxo Nenê Romano nos anos 20

Renata SakaiDo EGO, em São Paulo


Divulgação/Divulgação

Em cima, Dimas Oliveira Junior no set de "Desatino". Embaixo, os atores Ed Carmonero e Vivi Esteves como Moacyr Piza e Nenê Romano

Em 25 de outubro de 1923, na esquina da Avenida Angélica com a Rua Sergipe, o advogado Moacyr Toledo Piza mata a tiros a cortesã de luxo Nenê Romano e depois tira a própria vida. Esse é o desfecho trágico da história de amor que abalou a sociedade paulistana da década de 20 e que agora é retratada no curta-metragem "Desatino", do diretor e roteirista Dimas Oliveira Junior.


Imigrante italiana, a mais famosa prostituta de luxo de São Paulo chegou ao Brasil como Romilda Machiaverni, mas logo se tornou conhecida nas altas rodas como Nenê Romano. A história dela se junta à de Moacyr Piza quando, após ser atacada a navalhadas na rua em 1918, ela procura os serviços de seu futuro amante como advogado. Nascia então a obsessão de Moacyr por Nenê.

Em entrevista ao EGO, o diretor Dimas Oliveira Junior fala sobre as personagens e a história de "Desatino", que tem pré-estréia no sábado, 8, na Casa das Rosas, em São Paulo.

EGO - Como surgiu a idéia de filmar a história da cortesã Nenê Romano e do escritor Moacyr Piza?

DIMAS OLIVEIRA JUNIOR - A idéia surgiu porque tenho uma carreira de documentarista e trabalho com a preservação da memória nacional, especialmente a paulistana. Conheci a historia de Nenê e achei que dava para fazer não um documentario, mas um filme, dava para filmar a história com ficção.

Divulgação/Divulgação

Fotos dos verdadeiros Moacyr Toledo Piza e Nenê Romano

O filme é uma dramatização fiel do que aconteceu, ou você fantasiou alguma parte da história?
DIMAS OLIVEIRA JUNIOR -
Sou extremamente fiel aos depoimentos das pessoas envolvidas e fiz um trabalho sério em relação ao processo-crime. Mas como Nenê era prostituta, tinha contato com cafetinas, fiz um retrato de um bordel da epoca. É uma cena que provalmente nunca existiu, mas é uma amarração baseada em fatos reais.

O que chamou sua atenção nessa história policial especificamente?
DIMAS OLIVEIRA JUNIOR -
Você viu o filme "Em Algum Lugar do Passado"? Sabe quando ele (Christopher Reeve) entra na sala, vê a foto e fica apaixonado por ela? Comigo aconteceu a mesma coisa. Vi uma fotografia de Nenê e não sabia quem era. Eu me apaixonei por uma pessoa que eu nem sabia o nome, um caso de amor por uma garota que morreu há 85 anos.

Como foi sua pesquisa para o filme?
DIMAS OLIVEIRA JUNIOR -
Durante três anos me dediquei de corpo e alma ao caso de Nenê Romano. Foi difícil encontrar material, ela não era artista nem nada. Fui a arquivos públicos, usei jornais da época e consultei o arquvio do Fórum Criminal de São Paulo. O arquivo nem estava mais na cidade, mas mandaram vir o processo do interior para São Paulo. Conversei também com Susan Iannace, uma jornalista e investigadora criminal, que há alguns anos estudava o caso de Nenê.

Onde aconteceram as locações? Como recriar os anos 20?
DIMAS OLIVEIRA JUNIOR -
As locações foram todas montadas. Não teria como ter uma Avenida Angelica de 1923 senão montando. Fizemos tudo no Memorial do Imigrante, na Móoca. Recriamos uma Avenida Angélica da década de 20 com carros, postes, o mais próximo possível do que era na época.

Nas duas pesquisas, você encontrou outras histórias policiais interessantes? Pretende trabalhar com alguma?
DIMAS OLIVEIRA JUNIOR
- Meu próximo filme vai ser a história de Sofia Peixoto Gomide e do poeta Batista Cepelos. É uma historia de 1903. Ele era um poeta, famoso até hoje, que ficou noivo de uma mulher da alta sociedade. Ela era filha de Francisco de Assis Peixoto Gomide, senador e presidente da Caixa Econômica Federal. Uma semana antes do casamento, o pai proíbe a filha de se casar. O pai então matou a filha e se matou em seguida. O motivo? O Batista Cepelos era meio irmão da noiva, nascido de um caso que Francisco teve com uma escrava.